Há uns dois anos atrás eu costumava a ter um quadro chamado blogueiro do mês, porém desencorajada com contéudo "copiado" e sem encontrar uma escrita que me tocasse a alma, desisti essa pauta. Até que... um belo dia...Eu visitei o blog Modo Aleatório.
Quanto mais lia, mais queria ler. Foi um blog que pediu de mim reverência, paciência, atenção. Não dá pra ler na pressa. É como aquele restaurante caro que você vai no seu aniversário, que te força a parar tudo e se perder no momento, em cada sabor, em cada mordida. Muitos textos do Cidney saíram na pauta do Top Top , mas hoje ele traz um texto com muito amor, carinho e dedicação ESPECIALMENTE PARA OS LEITORES DESSE ESPAÇO.
Aperte o play, curta a trilha sonora e viaje nas palavras de um dos blogueiros que sempre encontra um caminho para trazer à tona as minhas emoções. Cidney, obrigada por participar desse quadro.
Trilha sonora de hoje :
Solar Sailer - Daft Punk
Aos blogueiros que não têm ambição de serem influencers
-Cidney Sousa-
Recentemente recebi uma mensagem dizendo
que um blogueiro como eu deveria ter milhões de seguidores e que meu
blog merece ter muitos acessos. E isso me deixou muito feliz, esse
reconhecimento é o tipo de coisa que todo mundo que faz o que ama
deveria ter. Mas não pude evitar ficar refletindo sobre a palavra
"blogueiro", porque, até então, eu não tinha me visto dessa maneira, nem
se quer tinha refletido sobre eu ser alguém inserido nesse meio.
Isso me fez lembrar de quando eu escrevi
meu primeiro livro e uma editora até se interessou por ele, me disseram
que eu deveria investir na ideia, e por um tempo até me interessei
nisso. Mas quando eu vi como funcionam as coisas dentro daquele meio, me
veio aquela sensação desconfortável de que eu estava entrando em um
lugar ao qual não pertenço. Sabe quando sua energia fica carregada
porque você está fazendo algo que vai totalmente contra o que você
imaginava para si mesmo? Foi exatamente assim que me senti.
Naquela época, eu descobri que não queria
ser um escritor que lança livros, que dá autógrafos e lida com várias
pessoas. Foi um momento muito decisivo na minha vida, pois tive que
voltar atrás e ser quem eu realmente sou: alguém que gosta de escrever. É
tudo o que realmente quero, foi até por isso que criei meu blog. O que
agora me fez lembrar do principio de tudo, porque querendo ou não,
estamos todos inseridos na época na internet, e se está online é pra ser
visto, não?
E eis uma palavrinha que ganhou força nos
últimos tempos em uma velocidade incrível: visualização. Durante essas
férias, eu não fiz nada mais que ficar em casa assistindo aquela
novelinha boba do Disney Channel, Soy Luna, e, de certa forma,
ela serviu para que eu visse como essa geração que está vindo após a
minha está funcionando. Porque quando os primeiros blogueiros começaram a
surgir, a realidade da internet era totalmente outra, porque agora tudo
parece um tanto artificial e pessoas se tornaram apenas ferramentas
para que empresas fiquem cada vez mais ricas.
Em Soy Luna, uma das personagens é super antenada, tem um canal numa plataforma similar ao YouTube, e não há um episódio se quer em que ela não fale sobre ter muitos viwes e likes. E
isso me fez até lembrar uma blogueira que acompanho há bastante tempo
(até mesmo muitos outros) fazendo algo que eu não teria coragem de
fazer: pedir por likes. Eu sempre me sinto incrivelmente incomodado com esse tipo de atitude, "se inscreve no meu canal", "me dê like", "deixe comentários".
Percebe como meio que perde a
naturalidade? É como se, de certa forma, eles te condicionem a isso,
quando deveria ser totalmente o oposto. Deixar o like se você
gostar mesmo do conteúdo, comentar quando realmente tiver algo de
interessante a dizer e se inscrever porque realmente se identifica com
aquela pessoa. Porque o que realmente está por atrás de todos esses
pedidos é apenas dinheiro ou ganancia por popularidade. Nada mais que
isso. E é isso que me incomoda de certa forma, porque parece que as
visualizações, os números, estão sempre à frente do conteúdo.
A internet se tornou uma ferramenta de fácil acesso à grande parte da população, e hoje em dia, com plataformas como o instagram,
creio que nos tornamos todos um pouco blogueiros. Estamos sempre
indicando um livro que lemos ou um lugar que fomos. Com o crescimento do
número de pessoas online, estamos todos tentando dizer uns aos outros
coisas legais e dicas que consideramos importantes para melhorar a vida
um do outro. Mas nem sempre o que vem para melhorar, realmente melhora,
porque tem muita gente espalhando mensagens ruins por aí.
Outro dia, eu vi uma garota que sigo no instagram
dando dicas de moda, aquela história de "roupas para cada corpo", e uma
das dicas foi uma roupa que disfarçava o culote... Se levarmos em conta
a época revolucionária em relação ao corpo que estamos vivendo, a dica
dela é totalmente antiquada, pois não é momento para se esconder debaixo
de roupas e dicas ruins, é tempo de se assumir na própria pele e se
amar do jeitinho que se é. E esse é apenas um dos perigos em viver na
geração dos "influenceres", palavrinha que até me faz revirar os olhos.
Esse ano mesmo, Manu Gavassi foi indicada a
um premiação da MTV na categoria blogueira, e no mesmo dia ela pediu
que retirassem o nome dela dali. Antes de tudo, ela é cantora e atriz,
não blogueira, segundo, a mesma sempre demonstrou pavor a tal estilo de
vida, mas, como eu havia mencionado anteriormente, nos tornamos todos um
pouco blogueiros, principalmente aos olhos dos outros. De repente, a
palavra blogueiro ganhou uma conotação até mesmo sarcástica, é normal
ver as pessoas por aí brincando de serem "blogueirinhos".
Mas claro que isso se resume a um tipo
especifico de pessoas trabalhando nesse meio, porque sempre existe um
oposto pra tudo. Tem perfil fazendo conteúdo para todo tipo de gente,
cada um com sua particularidade. E sei que tem muita gente boa por aí
que só queria ser vista, e acho que isso que me chateia um pouco, saber
que as pessoas leem mais blogs que dão dicas para elas ficaram mais
bonitas do que algo que mude elas por dentro.
Talvez seja por isso que gosto de pensar
que vivo nesse meu cantinho visível-invisível, um no qual estou apenas
escrevendo, sem a necessidade que gostem de mim ou que me vejam. Porque
um dos meus maiores medos é me perder nesse mundo onde o dinheiro existe
em abundancia à medida que minha inspiração é comercializada. E não é
que o dinheiro não me empolgue, mas talvez eu sinta falta daqueles blogs
lá de 2006, ou como o Depois dos Quinze no começo, quando a Bruna
Vieira fazia mais crônicas, hoje em dia ela nem faz mais isso, existe
outra pessoa na equipe para fazer esse tipo de post.
É como se quando você encara isso como
profissão, você tem que estar antenado ao que as pessoas estão falando,
ao que elas querem ouvir e o que fazer para se manter ali entre os blogs
mais acessados. E respeito essas pessoas, é o ganha pão delas, eu só
não sei se me meteria nessa. Tem um Youtuber que no começo até
gostava dele, mas depois notei que à medida em que ele ficava mais
famoso, os vídeos dele foram perdendo a qualidade. Chegou um momento em
que ele perdeu aquela coisa genuína, não parece que ele fala o que sente
e sim o que as pessoas querem ouvir.
Apesar de ser a época onde as pessoas mais
pregam que a moda é ser você mesmo, ainda tem muita gente aprisionada
aos comentários de outras pessoas. São os números que vem à frente nessa
geração. É como uma versão bizarra de um boletim escolar, quanto maior a
nota, melhor você é. Mas se tem uma coisa que a faculdade me ensinou,
foi que uma nota não me representa e nunca será capaz de resumir a
pessoa que sou. Mas, ainda assim, eu queria que blogueiros fossem vistos
como pessoas que têm algo a dizer e não como influenciadores, sempre
armados com uma dica e a promessa de que é a melhor de todas.